quarta-feira, 17 de abril de 2019

Funcionário confessa que matou patrão após contrair dívida de R$ 14 mil para comprar moto, aponta Polícia Civil

Ocorrência foi registrada em Dracena — Foto: Jorge Zanoni/Cedida
A Polícia Civil concluiu que o homem, de 63 anos, encontrado morto na própria oficina, no bairro Metrópole, em Dracena, foi assassinado por um adolescente de 17 anos, que era funcionário do estabelecimento. A ferramenta utilizada para ferir a vítima foi apreendida.

As apurações sobre o caso continuam por meio da Delegacia de Investigações Gerais (DIG).

Após as investigações, a natureza do fato foi alterada de morte suspeita para homicídio.

De acordo com a Polícia Civil, o rapaz confessou o assassinato em depoimento formal nesta terça-feira (16), quando apresentou detalhes sobre o caso.

O crime foi registrado na noite de 11 de abril. Conforme a delegada Luciana Nunes Falcão, um cliente foi até a oficina mecânica por volta das 20h e chamou pelo nome da vítima, mas ela não respondia aos chamados.

Como o portão estava aberto, o homem decidiu entrar no estabelecimento e se deparou com a vítima caída em meio a peças de veículos com um ferimento na cabeça.

O cliente acionou a polícia.

Dívida com cartão do patrão
De acordo com a Polícia Civil, o adolescente contou que havia contraído na quinta-feira (11) uma dívida de R$ 14 mil, com pagamento em 12 parcelas, através do uso indevido do cartão bancário do patrão. Ele tinha a confiança do patrão para realizar transações bancárias à empresa e, inclusive, possuía conhecimento da senha do cartão.

O rapaz dirigiu-se ao banco para pegar o novo cartão da conta da vítima e seguiu para a casa do proprietário de uma motocicleta que ele pretendia adquirir.

Ferramenta utilizada para ferir a vítima foi apreendida — Foto: Polícia Civil/Cedida
O dono da moto não estava no local, mas como sabia do negócio já em andamento a esposa dele fechou a venda do veículo pelo pagamento de R$ 14 mil em 12 parcelas.

Segundo a Polícia Civil, o adolescente convenceu a mulher de que tinha autorização do patrão para utilizar o cartão, do qual possuía, inclusive, acesso à senha, e ela acreditou na versão do rapaz para fechar o negócio.

Ambos dirigiram-se à casa de uma cunhada da mulher, que possui uma empresa que utiliza máquina de cartão, e efetuaram a transação de R$ 14 mil em 12 parcelas.

No entanto, quando voltavam para a casa da mulher, ainda no carro dela, o adolescente recebeu uma ligação do patrão já o questionando sobre a transação, pois a vítima tinha sido avisada pelo banco, de forma online, sobre a dívida. O rapaz negou, então, ao patrão que tivesse feito qualquer tipo de transação com o cartão. A mulher também ouviu a alegação e questionou o rapaz sobre a situação, mas ele desceu rapidamente do carro, pegou a bicicleta que usava e voltou para a oficina mecânica.

Ao chegar à oficina, o adolescente continuou negando ao patrão que tivesse qualquer envolvimento com a transação.

Segundo a Polícia Civil, mesmo assim, ficou a desconfiança do patrão sobre o rapaz.

A mulher do dono da moto mandou mensagens para o adolescente, questionando sobre a situação e dizendo que iria falar com o patrão dele. Com isso, o rapaz entrou em desespero, implorou para a mulher não levar adiante o caso e disse que tudo estava resolvido.

Já no começo da noite, com o fim do expediente de trabalho, o adolescente saiu da oficina com outro funcionário, mas no meio do caminho falou para o colega que precisaria voltar ao estabelecimento para pegar meias que havia esquecido no local. O rapaz estava de bicicleta, enquanto o colega usava uma moto.
Quando voltou para a oficina, o adolescente deparou-se com o patrão sozinho no estabelecimento.

Segundo a versão apresentada pelo rapaz à polícia, ambos voltaram a falar sobre a transação de R$ 14 mil e o patrão teria dito que mandaria um funcionário "conversar sério" com o adolescente se viesse a descobrir que havia sido ele o responsável pela dívida.

Quando o patrão abaixou-se para mexer no câmbio de um veículo que consertava na oficina, o adolescente, sem que a vítima percebesse, pegou uma ferramenta de chave e atingiu um golpe por trás na cabeça do patrão.

Ainda segundo a polícia, o rapaz desferiu outros dois golpes nas costas e mais um na cabeça da vítima.

Depois de matar o idoso, o adolescente voltou ao local onde o colega o aguardava e ambos foram a um bar.

Uma hora depois, quando ainda estavam no bar, o amigo do adolescente recebeu uma ligação de um cliente da oficina que lhe contou que o patrão estava caído no chão do estabelecimento em meio a sangue.

O adolescente e o colega voltaram à oficina, onde já encontraram uma aglomeração de pessoas e policiais que prestavam o atendimento à ocorrência.

Segundo a Polícia Civil, o adolescente vai responder pelos atos infracionais relacionados a furto mediante fraude (em relação à transação feita com o cartão bancário da vítima) e homicídio qualificado.

A polícia entendeu como situações qualificadoras do homicídio a premeditação, a surpresa à vítima e a ocultação do crime anterior.

A motocicleta que o adolescente havia comprado com o cartão da vítima estava em uma oficina e foi apreendida pela Polícia Civil, que a encaminhou à DIG.

Relação de confiança

As investigações indicaram que até o momento não há suspeita de envolvimento de outra pessoa no caso e que a versão apresentada pelo adolescente é compatível com o ocorrido.
A Polícia Civil pretende realizar nesta quinta-feira (18) a reconstituição do assassinato para confirmar a versão do rapaz.

O laudo do Instituto Médico Legal (IML) indicou que a vítima teve lesões nas costas, no pescoço, na cabeça e, aparentemente, no braço, o que sugere uma tentativa de defesa dos golpes. Tais lesões, segundo a polícia, correspondem à narrativa feita pelo adolescente.

Segundo a polícia, os golpes desferidos contra a vítima foram violentos.

Como não houve flagrante, o adolescente permaneceu em liberdade durante as investigações. No entanto, a Polícia Civil já pediu ao Poder Judiciário a internação provisória dele em uma unidade da Fundação Casa pelo período de 45 dias. Este é o prazo que a Justiça tem para dar um desfecho ao caso.

O próprio adolescente indicou na oficina a ferramenta utilizada para matar a vítima e a polícia apreendeu a chave. O objeto passará por perícia, que buscará identificar eventuais marcas de sangue da vítima.

Na avaliação da polícia, o rapaz premeditou o assassinato quando decidiu voltar à oficina para encontrar sozinho o patrão no estabelecimento.

As investigações ainda apontaram que o adolescente demorou no máximo seis minutos para matar o idoso.

Ainda segundo a polícia, o adolescente trabalhava havia três anos na oficina e tinha uma relação de confiança com o patrão, que o tratava como um filho.

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